É a primeira vez que um grupo estrangeiro assume o controle total de plantas sucroalcooleiras no estado
A produtora paranaense de álcool e açúcar Vale do Ivaí, situada no Noroeste do estado, foi comprada pela maior refinaria de açúcar da Índia, Shree Renuka Sugars. O valor divulgado da compra foi de US$ 82 milhões, mas envolve também a absorção de dívidas na casa de US$ 240 milhões. É a primeira vez que uma empresa do exterior adquire a totalidade de uma planta sucroalcooleira do e
De acordo com o presidente da Vale do Ivaí, Paulo Zanetti, os indianos adquiriram as duas plantas paranaenses – em São Pedro do Ivaí e em Marialva (unidade Cambuí) – do total de três unidades da empresa. A terceira e menor, localizada em Fronteira (MG), sofrerá uma cisão e será redistribuída aos atuais acionistas.
Apesar da demanda crescente por etanol e açúcar no mundo, o setor sucroalcooleiro nacional enfrenta tempos difíceis. Além de acumular dívidas nos últimos anos e sofrer com a falta de crédito, as chuvas atrasam a safra e diminuem o rendimento industrial da cana. Até outubro o Paraná moeu 34,6 milhões de toneladas, 69% da safra. Em um ano normal, já deveria ter processado 86%. Além disso, o rendimento caiu 4%. Segundo a Alcopar, o Paraná tem 30 unidades de processamento e 50,2 mil toneladas de cana-de-açúcar disponíveis para moagem, distribuídas em 600 mil hectares.
Ele explica que o negócio com a Shree Renuka foi condicionado à compra do passivo de US$ 240 milhões. “Fizemos no passado alguns investimentos que consideramos sólidos, mas que acabaram desmoronando com a crise do crédito. A empresa não estava correndo risco, mas estávamos bastante endividados. A negociação já estava ocorrendo há algum tempo, e avalio a capitalização de US$ 82 milhões que conseguimos como forte, bastante positiva. Era isso que os acionistas queriam, levantar capital e manter a produtividade da empresa”, declarou.
Apesar de as duas usinas negociadas terem a capacidade de moagem de 3,1 milhões de toneladas de cana por ano, nesta safra está esmagando apenas 2,4 milhões. “A crise me fez pôr o pé no freio”, conta. Segundo informações divulgadas pela companhia indiana, a compra será feita com dinheiro próprio, sem lançamento de ações ou de novas dívidas. A dívida assumida da Vale do Ivaí teria sido renegociada para oito anos.
Mesmo com a mudança societária, o executivo paranaense afirmou que permanecerá à frente da empresa, e informou que o plano a partir de 2010 é ampliar a capacidade produtiva em mais de 20% em dois anos – a moagem deve ser majorada de 3,1 para 3,8 milhões de toneladas/ano. De acordo com ele, o açúcar será priorizado nos investimentos. “Os planos são de ampliar a produção de açúcar em São Pedro do Ivaí e montar uma nova fábrica, também de açúcar, em Cambuí. Nesta unidade hoje produzimos apenas álcool.”
Além das usinas, também interessam à gigante indiana os 18 mil hectares de terras cultiváveis e as associações nos dois maiores terminais de exportação de açúcar e de álcool do Paraná e ainda na CPA Trading, responsável pela comercialização de 60% do etanol do estado.
O presidente da Alcopar, Anísio Tormena, disse que ainda está muito cedo para emitir uma opinião aprofundada sobre a aquisição das plantas sucroalcooleiras paranaenses. “Se lá fora estão enxergando no Paraná uma alternativa econômica boa, isso dá um incentivo para o produtor. A Índia é uma liderança mundial no setor, mas lida com mercados e produtividade diferentes. Se eles conseguirem ganhar dinheiro aqui, acho que vai ser bom para agregar novos conhecimentos ao negócio do estado”, avaliou.
Ele afirmou ainda que, até então, a produção de álcool e açúcar no Paraná se manteve de certa forma isolada, sem a participação estrangeira, mais comum no estado de São Paulo. “Já tivemos algumas vezes a participação, mas nunca aquisição, de grupos estrangeiros. Isso ocorreu principalmente depois daquela visita em 2007 do [então presidente dos Estados Unidos], George W. Bush ao Brasil, que veio conhecer a produção de etanol. Esse fato despertou interesse de alguns investidores, mas todos eles já saíram porque não tinham o know-how do negócio – uma situação bem diferente da Índia”, afirmou. A Índia é o segundo produtor mundial de açúcar, atrás do Brasil.
Fonte: Gazeta do Povo