Um grupo não concorda com o trabalho do artista plástico convidado para fazer restauração da Igreja Nossa Senhora de Fátima.
Polêmica e muito barulho em Brasília. Teve bate-boca e até censura. O motivo da briga? A confusão começou numa pequena igreja, um patrimônio histórico.
A Igreja Nossa Senhora de Fátima, a Igrejinha para os moradores de Brasília, é patrimônio histórico, projeto de Oscar Niemeyer. Mas com o tempo a obra foi descaracterizada. Agora, um grupo de fiéis não concorda com o trabalho do artista plástico convidado para fazer a restauração.
A santa no centro do altar é Nossa Senhora de Fátima sem rosto. Ela tem uma pipa no lugar das mãos. O rosário é um carretel de linha. A coroa é decorada com flores.
“Aqui não tem mais concentração, não tem mais intimidade com Nossa Senhora”, reclama a dona de casa Terezinha Valença.
Nas laterais, azul. Pipas e flores foram criadas para representar a alegria das crianças que viram a Virgem Maria, teriam testemunhado a aparição da santa.
“É um desrespeito à fé católica”, aponta uma fiel.
Alguns fiéis acharam o visual profano demais.
“Como é que vai colocar uma pintura cheia de bandeirinha? Não é carnaval aqui dentro. Aqui não existe carnaval”, diz a dona de casa Maria de Sousa.
Fizeram um abaixo-assinado e vários protestos.
“Houve de tudo. Até palavrão, sabe? Censurando o pintor. As pessoas estão totalmente revoltadas. Cada qual reage de uma forma. Houve choro, houve grito, houve tudo, atrapalhou a paz da igreja. Está um absurdo”, afirma a professora Zelma Capelli.
Assim que o artista desenhou a imagem da santa, uma senhora que frequenta a igreja resolveu tomar uma atitude. Cobriu o painel com um pano branco.
O trabalho chegou a ser suspenso por cinco dias por ordem do Ministério Público. Mas o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) achou que os painéis eram uma obra de arte. E comprou briga com os fiéis insatisfeitos. A maioria é de moradores da vizinhança.
“É o princípio de ser uma intervenção moderna, dentro de um monumento de uma arquitetura moderna. É isso que dá sentido a Brasília. É isso que dá sentido à cultura brasileira neste local”, aponta o presidente do Iphan Luiz Fernando de Almeida.
A Igrejinha foi inaugurada em 1958, a pedido de Juscelino Kubistcheck para pagar uma promessa de Dona Sarah com Nossa Senhora de Fátima. O então presidente convidou amigos ilustres para o projeto: Oscar Niemeyer desenhou o templo no formato de um chapéu de freira. Athos Bulcão fez os azulejos. A decoração interna ficou nas mãos de Alfredo Volpi.
“Volpi pintou e essa pintura foi destruída, vandalizada, em nome do azulzinho com branquinho”, aponta Alfredo Gastal, do Iphan-DF.
Ninguém sabe ao certo quem destruiu o desenho de Nossa Senhora com menino Jesus no colo. Os dois sem rosto. O Iphan tentou recuperar a pintura original. Impossível. Então, escolheu um artista com estilo bem parecido para fazer os novos painéis: Francisco Galeno. Nem as controvérsias abalaram a fé do piauiense na arte.
“Paciência. Procurei fazer uma coisa com sinceridade dentro da minha fé como cidadão e também como artista. Então, não acho que tenha nada que esteja profanando a igreja ou indo além da fé deles”, defende o artista plástico Francisco Galeno.
A expectativa do Instituto do Patrimônio Histórico é que a pintura dos painéis esteja concluída até o final do mês.